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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

inexistência

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eu te devoro

e regurgito inteiro
pra te devorar inteiro de novo
até o enjôo

te vomitei nas horas perdidas gastas com a lembrança do teu gosto
ardia meu corpo febril enquanto a brisa da morte gelava-me a alma

para onde virasse meus olhos era teu rosto a assombrar-me a escuridão
eras como sombra a aparecer ao menor traço de luz
[e assim fiquei no escuro-claro da lembrança: mentira insistente a tingir de verdade o registro passado na memória presente]
não está;               não é!           nem foi

“o tempo dilui as pessoas”
não! não espero... o tempo...

te vomitei aos pedaços... esquartejado de enganos, palavras tolas ações levianas
regurgitei teu cheiro, teu toque, separadamente... tuas cores, tua voz entrecortada e distorcida... aos pedaços... tuas formas: tuas partes... estilhaçadas... teu sabor

pus pra fora, por fim, às golfadas
o gosto da tua ilusão, em um alfabeto desconexo

pra nunca mais te juntar de novo
...
(criei tua inexistência)



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tempestade

¨¨ # ¨¨


escolho tempestade sempre que posso


mil vezes tempestade que me arrasta como quer, me distorce, desequilibra, ensandece, envaidece, humilha, assusta, enraivece, me derruba, atira lama em meu corpo até sufocar narinas e entranhas, de onde posso gritar, e que me faz correr, sem rumo, desesperada

antes o desprezo e a negligência, o uso egoísta e irresponsável, a negativa, a rejeição, e o tapa e a porrada certeira

mil vezes viver...

ao silêncio
esse nada
à indiferença
essa morte
ao esquecimento
esse luto

infinitas vezes arrebentar minhas ondas em rochedos e lamber-lhes o sal que lhes imprimo
... a um laguinho parado – poça turva, suja e morna – aparência de túmulo

sou oceano
necessito deitar ondas e desejar a areia,
despejar segredos e tragar o que em mim jogarem
não posso ser calmaria

preciso do espanto das nuvens carregadas molhando minha alma
de barcos invadindo meu ser a procura de alimento

quero pescador
a ouvir meu canto
se perder em minhas profundezas


¨¨ # ¨¨

às quintas

...


o anjo bate as asas e despeja alegria sobre outra existência
não terá notado o céu radiante por trás das nuvens?

- descobrirá um dia o que eu já sei desde o primeiro amanhecer?! (quando um carro levou o sertão pra outras veredas e o deixou aqui dentro de mim...)-

“só a um telefonema de distância”
ligação cruzada – a linha caiu

as saudades acumulam os dias: todos os dias
o queijo não é muito bom
sem capuccino

a boca não quer mais aprender o beijo

... a voz a pele acaricia...
embora silêncio

o coração vê...
meus olhos sentem

já mora em mim
falta me guardar

ou carregar consigo
(embora negue, anjo é moço difícil)

...