um canto de artista - canto para artistas

artes, artes... e... artes

leiam se quiserem

contribuam se possível

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

de Crítica de Cinema, Gore Vidal e Rubens


...


Ontem encontrei na FFLCH, USP, uma coletânea de ensaios de Gore Vidal, considerado por muito tempo o maior nome do ensaio crítico norte-americano. Comprei imediatamente ao ler o título de um de seus artigos: Quem faz o cinema?.


Pois é... como fui direto a ele, não posso comentar a obra toda ainda, mas creio que aqui ele amassou demais o abacate...
Dois descontos: primeiro, em retrospectiva histórica a crítica é bem mais fácil... segundo, ele tratou do que conheceu bem, OK, mas embuído de certa mágoa pelo desprezo que sentiu em relação aos autores à época em que trabalhou na MGM.
Tudo bem, considerando seu esforço em Ben Hur e a omissão de seu nome nos créditos do roteiro, é perfeitamente compreensível.


Porém dizer que o diretor de cinema é um 'mero técnico' que poderia - e deveria! - perfeitamente ser dispensado do filme é um tanto demais. Até porque é bastante desejável que diretores - e não só de cinema -  sejam ótimos técnicos, embora um não seja sinônimo de outro. Assim como atores, bailarinos, cantores etc... escritores também - a mania de achar que arte se faz sem técnica é amadorismo...


Mas nem tudo se perde: entendendo a crítica como sendo dirigida a um certo tipo de filme, em uma época em que os efeitos começaram a tomar conta das películas em overdoses, podemos apreciar alguma coisa importante de sua impressão. Sobretudo quando acusa já àquela época o fato de o desfilar de luzes e sons pela tela, fazendo os efeitos mais 'importantes' do que a qualidade humana tirar de um filme a qualidade de arte. Nisso ele estava, como ainda está, bem certo.
Realmente, se ele foi dos primeiros, e em pleno coração da 'indústria', a notar e pontuar o fenômeno, este fato já valeu o ensaio.


Com o que não se deve simplesmente concordar é que o diretor seja totalmente dispensável - ao menos genericamente falando. Ora, para ressaltar a importância de um bom roteiro - o trabalho do escritor, portanto - não é necessário desmerecer o trabalho de direção.

É certo que uma boa história é a alma da imensa maioria de filmes excelentes, mas um diretor que não saiba o que fazer com ela pode pôr muito a perder. Não fosse assim, o roteiro de Forrest Gump não teria esperado tanto tempo por Robert Zemeckis. Apesar de amante de efeitos visuais, o diretor respeitou a profundidade das personagens desenvolvidas por Eric Roth, o que resultou na excelência da obra.



O próprio conceito de 'cinema autoral' que nascia pela década de 60 (atenção: a existência de cinema autoral precede sua conceituação), e é observado pelo ensaísta neste texto, parece revelar a importância da integração entre texto e diretor, e não o contrário: o caráter dispensável do último.


Bem, de qualquer forma, vale conhecer aspectos de bastidores por quem tem tamanhas referências. Seria interessante trocar figurinhas a respeito com quem entende mais do que eu do ofício (o que não é nada difícil de encontrar...).


Agora, para concluir sobre crítica de cinema: gosto mesmo do nosso singular e excelente Rubens (o Ewald Filho). Quando eu era muito jovem, cheguei a suspeitá-lo pedante... mas, honestamente, apaixonado como ele é pelo ofício, só podia resultar sua tamanha qualidade. Esse é o cara; mesmo se alguém - ainda - não gosta dele, fica impossível não admitir: ele sabe do que fala.


Abraço, Rubens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário